Como é o vosso Paraíso? O meu tem forma de Biblioteca.
OS MEUS LIVROS: |Distúrbio| |Antologias|

11
Ago 11
publicado por paraisobiblioteca, às 09:00link do post | Comentar

 

 

Doce. Infinitamente doce é como adjetivo este livro. Era capaz de ler duas, três vezes e, ainda assim, apaixonar-me pela escrita de Antonio Skármeta. Uma história em que a verdadeira protagonista é a metáfora: na própria narrativa do autor e na vida dos personagens. Acho que qualquer pessoa consegue perder-se nas frases do escritor, de Mario, de Pablo Neruda, da viúva González e de Beatriz. Mas é fácil perceber que aqueles que gostam de escrever - e logo eu, que amo metáforas - encontram, nesta leitura, uma espécie de orgasmo literário, um espelho, um reflexo de si próprio, um frente a frente. É um livro que apela à sensibilidade da amizade, do amor, do querer muito uma coisa e lutar por isso, da ajuda. E, depois, aquelas descrições recheadas de amor, que só na América Latina se fazem. Cada vez mais admiro os escritores latinos, que constroem personagens tão ricas, densas e carismáticas. Mesmo quando são pessoas que, à partida. possam ter caraterísticas que não gostamos (como o caso da viúva), conseguem sempre cativar. Leiam, por favor, leiam. Vai fazer-vos tão bem. Vão rir e enternecer ao longo da narrativa; vão chorar com o final; e, quando fecharem o livro, vão suspirar e pensar na vida como uma grande metáfora. Não resisto em deixar-vos, aqui, dois excertos do livro.

 

“- Não há pior droga que o blá-blá. Faz uma taberneira de aldeia sentir-se como uma princesa veneziana. E depois, quando chega a hora da verdade, o regresso à realidade, reparas que as palavras são um cheque sem cobertura. Prefiro mil vezes que um bêbedo te apalpe o cu no bar, a que te digam que um sorriso teu voa mais alto que uma mariposa!

- Estende-se como uma mariposa! - saltou Beatriz.”

 

“- Desde há uns meses anda a rondar a minha taberna esse tal Mario Jiménez. Este senhor foi insolente com a minha filha de apenas dezasseis anos.

- O que lhe disse?

A velha cuspiu entre dentes:

- Metáforas.

O poeta engoliu em seco.

- E?

- É que com metáforas, pois, Don Pablo, tem a minha filha mais quente que uma bomba!”

 

Nota: 10 metáforas.

tags:

Contacto: paraisobiblioteca@sapo.pt | Twitter: @ValentinaSFerr
Adquire o teu exemplar do Distúrbio
A Menina da Biblioteca também escreve aqui:
"Estórias do Arco-da-Velha"