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Jun 11
publicado por paraisobiblioteca, às 09:00link do post | Comentar

Querias Pessoas, a entrevista de hoje é um pouco diferente porque, como poderão ver, o interveniente não é como os convidados anteriores - não escreve para respirar; tão-pouco sonha com vida de escritor. Mas, como é certo que deverão estar a perguntar qual a razão para se encontrar aqui, eu explico: a pessoa que se segue foi meu professor no 1º Ciclo, ajudou a cultivar em mim o gosto pela escrita e pela leitura e deu-me as ferramentas necessárias para que eu, mesmo pequena, já gostasse de escrever e inventar mundos fantásticos. E que seriam dos escritores se não fossem os seus professores? Continuariam a ser advogados, cientistas, engenheiros...mas, muito provavelmente, não haveriam letras no sangue nem aquele prurido que só passa se escreverem. E, por isso, eles merecem toda a nossa admiração.

 

 

P.B: Jornalismo ou Literatura?

G.M: Nem uma coisa nem outra. Por circunstâncias diversas fui obrigado a abandonar o jornalismo, com muita pena minha. Mas a verdade é que se ainda estivesse envolvido no meio teria muita dificuldade em compatibilizar-me com o jornalismo que se faz hoje:  um jornalismo mercenário, por um lado e, por outro, o não jornalismo. O primeiro de carácter essencialmente político, partidário, faccioso, pouco transparente, nada independente, inquinado, objectivamente rasca. O segundo que alimenta e se alimenta do que não interessa, não produz, não nos traz nada de novo, antes pelo contrário, embala os cidadãos na ignorância, cultivando a miragem, alimentando personagens irreais, e, por isso mesmo, objectivamente piroso.

 

P.B: Romances históricos ou Literatura infantil?

G.M: Históricos ou que, de alguma forma, introduzam o factor histórico de uma forma objectiva e verdadeira. São tantas as histórias e os autores que a minha regra (que como todas a s regras são feitas para se quebrar) é ler apenas um livro por autor. Se o romance histórico é o meu género preferido, literariamente falando, Agustina Bessa Luís nunca me cansa. Ela é A ESCRITORA. Os outros… fazem umas coisas, algumas interessantes, mas nenhum lhe chega aos calcanhares. Invariavelmente, por mais que tente, não consigo ler nem perceber Saramago. O próprio e os que o idolatram. Deve ser problema meu, com certeza.
Do que está na moda, gosto de Ken Follet.

 

P.B: Tem uma das profissões, a meu ver, mais fascinantes do mundo: professor primário. Ensinar a escrever e a ler contribui para que as palavras tenham um poder tão forte na sua vida?

G.M: Ensinar a escrever e a ler é um dos maiores desafios que se colocam a um professor do 1ª Ciclo (dizer professor primário é muito primário). Mas claro que um professor não faz as coisas sozinho. É um círculo vicioso. digamos que o professor tem a responsabilidade de despoletar o interesse, motivar, incentivar e todos esses verbos que se costumam utilizar para definir o trabalho do professor. Do outro lado, há que haver correspondência e o apoio da família.
Numa casa onde não se lê, não há livros e não se contam histórias e há ausência de vivências é difícil motivar para a escrita e para a leitura. Infelizmente, o nosso passado colectivo está cheio de casas onde nem estantes havia, quanto mais livros. E por isso, serão precisas várias gerações para que se ganhem alguns hábitos. Não já só e unicamente com os livros, mas com as ferramentas extraordinárias que, hoje, de uma forma brutal, estão a chegar e a mudar o paradigma do conhecimento.
Diga-se no entanto, e em jeito de piada, que começo a ter dúvidas num princípio tantas vezes dito de que o conhecimento nos faz falta como o pão para a boca. Não raras vezes, parece que a ignorância é a mãe da felicidade. Tomando isso como certo …

 

P.B: Quais os próximos passos?

G.M: Na verdade nunca tive projectos literários. Tudo o que escrevo tem mais um carácter jornalístico que outra coisa. Isso não significa que não tenha feito algumas experiências que podem ver no meu site pessoal (http://www.goncalomendes.com), que é uma espécie de portefólio onde coloquei parte dos artigos que escrevi em revistas e jornais, assim como 2 contos de sabor histórico e 3 contos infantis.


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